21 de dezembro de 2010

Prometheus e a música de Fauré


Promethée foi a primeira ópera composta por Fauré, que teve sua estréia em 1900. Apesar do enorme sucesso que teve, ficou esquecida. Esta primeira versão foi composta para (pasmem)100 instrumentistas de cordas e 15 harpas e dois grupos de sopros (madeiras e metais), uma orquestração absolutamente “anti-Fauré”. O motivo de uma orquestração tão grandiosa, e porque não dizer “ruidosa” , foi o fato dela ter estreado ao ar livre, com uma platéia de mais de 10 mil pessoas. O sucesso foi enorme na época. Mas é claro que Fauré logo percebeu que com um instrumental desses a ópera jamais seria montada novamente. Por essa razão decidiu, com a ajuda de alguns de seus pupilos, reorquestrá-la para uma orquestra normal, bem ao estilo Fauré, é claro.

A primeira grande dificuldade que estou enfrentando ao escolher montar esta obra é o fato de a nova versão orquestral nunca ter sido editada. Sendo assim, peguei a redução de piano e estou fazendo aquilo que os discípulos de Fauré fizeram há 100 anos atrás: orquestrá-la ao estilo Fauré. Minha referência tem sido, evidentemente, o Requiem, pois a ópera foi escrita na mesma época e há, por sinal, várias passagens harmônicas semelhantes entre ambas as obras. Um trabalho exaustivo, mas que vai dar um bom resultado.

Apesar do fato do Requiem ter sido escrito na mesma época da ópera, ambos se diferenciam no aspecto harmônico. Na ópera não existe a leveza das melodias e harmonias da Missa, o que se vê somente em alguns trechos. Prometheus é, na maior parte composto com uma harmonia mais densa. O que mais lembra o Requiem em Prometheus é a escrita do coro, sempre mais transparente com muitas passagens em unísono.
Do ponto de vista harmônico o que impera é a mudulação contínua.

O outro desafio é a ideia de montar uma tragédia grega. Minha primeira decisão ao ver como o coro comenta as cenas (como o coro grego), foi fazer radicalmente uma união da dança com a música cantada, ou seja, desta vez a técnica da Martha Graham, que sempre usamos em nossos ensaios, será parte ativa e preponderante nesta montagem (senhores cantores, preparem-se, fisicamente será bem puxado).

A segunda coisa é em relação ao visual. Decidi usar como referência, o expressionismo abstrato de Jackson Pollock. Até mesmo nos figurinos e na maquiagem.

Do ponto de vista musical e cênico será um degrau acima em relação à Jornada do Peregrino.

Mais um desafio que proponho à orquestra e aos cantores. Já antecipo um grande sucesso, pois tenho certeza que o grupo vai se sair muito bem!!

Será a primeira audição da obra no Brasil e a única versão em DVD desta obra!!

Vamos ao trabalho!!

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