28 de setembro de 2010

Ser independente

Todos esses anos de NUO e as pessoas continuam perguntando: "Como você faz para produzir sem dinheiro?" E eu respondo: "é porque somos independentes".  Geralmente não entendem a resposta. "Como assim? A independência garante verba?" Não, não garante. Pelo contrário, dificulta ainda mais. Mas como qualquer grupo de teatro, o dinheiro não nos move, ele é apenas um complemento.

Projetos ligados ao Estado vem e vão... mas grupos como o NUO não acabam, a não ser que paremos de criar e de nos arriscar. Sim, fazer arte é um risco... sempre foi em toda a história da arte, mas é justamente esse risco que corremos que faz a diferença.

Fazer arte também é não se preocupar com críticas, é produzir e colocar a obra a frente de tudo. Daí tem aquela gente que diz: “ Mas não dá para fazer um trabalho profissional sem dinheiro”. Será que não? Muita gente liga profissionalismo ao dinheiro, ao quanto se paga, mas isso não é verdade.

Hoje, passados quase 7 anos de NUO, com a décima quarta produção para estrear, o que o NUO realiza é muito profissional... não temos grandes vozes, não temos grades virtuoses, mas temos grandes artistas, claro, em formação, mas ninguém pode discordar disso! Mais, no NUO sobra o que poucos grupos têm: vontade, compromisso e, acima de tudo, respeito pela obra, pelo público e por nós mesmos. A cada semestre mais gente nos procura, gente que viu a diferença ou que ouviu falar de nosso trabalho... Este semestre, com IOLANTHE, temos um grupo ainda mais homogêneo e unido, sobretudo depois do êxito da JORNADA DO PEREGRINO.

Os cantores são estudantes, a orquestra é formada por estudantes, ninguém tem salário, ninguém lucra; enfrentamos barreiras, preconceitos, desprezo... mas continuamos vivos, mais do que nunca! E o público cresce cada vez mais e nos respeita cada vez mais...

Sempre penso que a maneira como fazemos ópera não é porque vivemos no Brasil e só tem esse jeito. Sempre penso que se o NUO estivesse em qualquer país da Europa agiríamos do mesmo modo... a única diferença é que, com certeza, seríamos mais reconhecidos e respeitados pelos órgãos governamentais e pela mídia...

Mas aí eu me pergunto: isso faz mesmo alguma diferença?

E IOLANTHE estréia em dezembro... claro que é difícil administrarmos tudo com o mínimo de capital de giro... mas a grande vantagem de não depender de verbas de terceiros é que nunca cancelaremos nossas montagens por falta dela.

2 comentários:

  1. Ainda assim, a pergunta segue sem resposta. Apesar do dinheiro não mover ninguém dentro do NUO, ele é essencial para garantir que a montagem aconteça, dados os custos que temos..

    A questão fica então: não como fazemos para produzir sem dinheiro, mas como conseguimos o mínimo de dinheiro para fazer cada montagem.

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  2. Uma coisa muito interessante na arte é que o aprendizado nunca acaba. Então, se a gente for ver por esse lado, não importa o quão "profissional" um grupo de ópera seja, ele sempre será formado de estudantes!
    Nós seremos eternos estudantes de música; Porque ela em si é inesgotável.
    E na hora em que alguém diz: "agora já não preciso mais estudar, já sei tudo", é exatamente a hora em que começa o declínio. Parar de aprender é parar de ser artista.
    Assim como preocupar-se somente com o dinheiro não faz ninguém ser mais artista que ninguém.
    Profissional não é aquele que ganha o dinheiro; profissional é aquele que está envolvido com a obra por amor à arte.
    E pra quem quiser chamar de "amador", ótimo! Porque acima de tudo está realmente o nosso amor pelo que fazemos.

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