23 de agosto de 2010

Iolanthe - uma ópera cômica para se levar a sério.

Iolanthe é, por assim dizer, um conto de fadas e ao mesmo tempo, uma sátira política. Gilbert procurava um argumento que pudesse servir de gancho para satirizar a Câmara dos Lordes e viu num conto de fadas o instrumento ideal. Inicialmente o alvo seria a Câmara dos Comuns, mas Gilbert mudou de ideia ao começar os primeiros esboços. A história é baseada num conto de fadas que fala sobre a proibição do casamento entre fadas e mortais. Um fato curioso é que o título da ópera não era conhecido até os últimos ensaios: na realidade, o nome da mãe de Strephon seria inicialmente Perola. Foi somente nos ensaios gerais que o nome Iolanthe substituiu o nome Perola fazendo com que, mesmo nos dias das récitas, alguns integrantes do coro e solistas esquecessem e trocassem os nomes.

Iolanthe foi a primeira ópera a ser escrita especialmente para estrear no Teatro Savoy, o que aconteceu em novembro de 1882. O Teatro Savoy foi construído pelo produtor Richard D’Oyly Carte, diretor da companhia que encenava constantemente as óperas de Gilbert e Sullivan. Carte percebeu que seria o melhor investimento possível ter um teatro exclusivo para as criações dessa dupla - ideia que deu muito lucro a todos. A companhia duraria décadas, mesmo após a morte da dupla e do próprio D’Oyly Carte, dissolvendo-se nos anos 50.

Iolanthe teve 398 récitas consecutivas de grande sucesso e essa obra representa o ponto inicial da maturidade criativa, tanto de Gilbert quanto de Sullivan. Foi nessa obra que ambos chegaram ao auge do que seria a típica estrutura da opereta inglesa. As Savoy Operas, como seriam conhecidas as criações de Gilbert e Sullivan, passaram a deixar sua marca definitiva na história da ópera inglesa.

Se analisarmos mais atentamente, veremos que existem algumas curiosidades sobre essa ópera:

- Iolanthe surge do fundo de um rio - uma citação às Donzelas do Reno da tetralogia de Wagner. Também é Wagneriano o uso que Sullivan faz dos leitmotiv, como nos temas de Iolanthe, das fugas no surgimento do Chanceler e do tema das fadas.

– Lorde Chanceller é visto por alguns estudiosos como uma caricatura do então Primeiro Ministro da época William Gladstone; a Fada Rainha, por sua vez,é considerada por muitos como um retrato psicológico da própria Rainha Vitória.

De alguma maneira todos os personagens encontram-se psicologicamente divididos. Lorde Chanceler tem seu lado racional de jurista sempre em conflito com seu lado emocional. Strephon tem uma divisão física entre fada e mortal - ele enfrentará para sempre o destino de envelhecer só da cintura para baixo. A Fada Rainha, autoritária e contida, guarda seus instintos e desejos para si - ela representa a moralidade que reveste o desejo carnal. Tolloller e Mountararat ficam divididos entre o amor de Phyllis e a amizade entre ambos. Phyllis, por sua vez, demonstra amor por Strephon, mas sabe do conforto que seria casar com um nobre:“Se um de vocês doar sua fortuna para os necessitados, fico com o outro”. Os nobres também dividem-se entre a moralidade da Câmara dos Lordes e uma possível união com uma de suas jovens protegidas, assim como as fadas lamentam a lei de pena de morte caso se unam a um mortal, pois é difícil resistir à tentação.

Original costume design for the Fairy Queen by Wilhelm
disponível em

Como em todo conto de fadas, existe um personagem que representa a autoridade materna - a Rainha, a paterna - o Chanceler e a filha abandonada - Iolanthe. O desfecho mágico e simples (Topsy- Turvy) que muda o destino de todos encerra a ópera. No caso de Iolanthe, curiosamente, esse destino é selado pela palavra “não”...

Essa curta análise mostra que existe muito mais do que simplesmente entretenimento nas óperas cômicas de Gilbert e Sullivan. O mais curioso é que quanto mais levamos os textos de Gilbert a sério , mais engraçado fica o resultado final!
Quer saber mais? Veja o enredo nos comentários deste post!


2 comentários:

  1. ATO I
    Era uma vez...
    uma fada chamada Iolanthe. que um dia apaixonou-se por um mortal e se casou, mas, pela lei das fadas, uma fada que se une a um mortal é punida com a morte. Mas a Fada Rainha, como tinha um afeto especial por Iolanthe, deixou que ela vivesse, mas fora do mundo das fadas. Ela se uniria a natureza, em qualquer lugar que quisesse, contanto que abandonasse seu marido mortal sem explicações. Iolanthe escolheu ficar no fundo de um riacho. Ela teria de cumprir essa sentença por toda a existência.

    A ópera começa 25 anos depois. (o tempo é contado diferente para as fadas, isso equivale um ano aproximadamente, dessa forma as fadas nunca envelhecem). As fadas sentem muita falta de Iolanthe e convencem a Rainha de perdoá-la. A rainha então, faz um encantamento e Iolanthe surge do fundo do riacho.

    A Rainha pergunta a Iolanthe porque escolheu o fundo do rio para cumprir sua sentença. Ela explica que foi o único jeito de ficar próxima a seu filho, Strephon, um pastor de ovelhas.

    Strephon tinha uma particularidade, era fada da cintura para cima e mortal da cintura para baixo. Sua grande paixão é Phyllis, uma adolescente órfã que tinha a proteção da Câmara dos Lordes. Nesse caso, como ela não tinha atingido a maioridade, ela só poderia se casar com autorização do Chanceler Mor, mas ele não deu essa autorização, deixando Strephon inconformado.

    Strephon vê que sua mãe foi libertada e conhece a Rainha, assim como as outras fadas, suas jovens tias. Ele explica sua situação à Rainha e ela deixa claro sua intenção de ajudá-lo, tornando-o Membro da câmara, pois ela tem muita influencia lá.

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  2. Enquanto isso os membros da Câmara dos Lordes tentam convencer Phyllis a escolher um deles como marido. O Chanceler Mor, grande apaixonado por Phyllis, por uma questão ética, proíbe a si mesmo de colocar-se como pretendente. Phyllis então, explica a todos que já tem um pretendente, Strephon o pastor. Eles ficam furiosos e o Chanceler Mor proíbe definitivamente essa união.

    Nessa cena surge Strephon, que sem esperanças, chora de tristeza. Sua mãe, Iolanthe, chega e consola o filho. Phyllis, acompanhada dos Lordes, vê Strephon abraçando uma mulher que aparenta ser mais jovem do que ela e briga com ele.

    Strephon explica a todos que se trata de um equivoco, pois aquela jovem é sua mãe. Lógico que ninguém acredita nele. Phyllis desiste do noivado com Strephon e se coloca a disposição dos pretendentes da Câmara.

    Strephon pede ajuda às fadas. A Rainha aparece e lança um encantamento sobre a Câmara dos Lordes. Strephon fará parte dela, conseguirá aprovar todas suas propostas, e a partir de então todos os nobres só entrariam na Câmara por concurso público. Horrorizados, eles tentam convencer a Fada Rainha de mudar esse encantamento, em vão, pois termina o primeiro ato.

    ATO II

    O segundo ato acontece em frente ao Palácio de Westminster, a casa do Parlamento. Na frente vemos um sentinela, O Soldado Willis, que obviamente, canta sua ária.

    Em seguida entram as fadas e encontram os Lordes da Câmara irados com as modificações que Strephon tem proposto como membro do parlamento. As fadas se negam a ajudá-los , mas não deixam de jogar um charme para eles. A Rainha as repreende, pois só o fato de desejar um mortal já é perigoso e canta como consegue resistir aos encantos de um mortal.

    Enquanto isso o Chanceler Mor discute com sigo mesmo sobre se tornar um pretendente para Phyllis.

    Strephon encontra Phyllis e lhe conta que sua mãe na verdade é uma fada e que ele mesmo é “fado” da cintura para cima. Eles se reconciliam e pedem a Iolanthe que interceda junto ao Chanceler Mor para que dê a permissão a Phyllis de se casar com Strephon. Iolanthe argumenta que isso é impossível, pois ela não pode aparecer para o Chanceler Mor, porque ele, na verdade, é seu marido e pai de Strephon e se ela contar ao Chanceler quem é, será condenada a morte.

    Mesmo assim ao ver que o Chanceler consegue convencer a si próprio a permitir casar-se com Phyllis, Iolanthe se revela. Surge a Rainha, que está pronto a condenar Iolanthe, mas é interrompida pelas fadas, que revelam estarem noivas dos lordes e sendo assim todas deverão também morrer. A Rainha fica confusa, pois a lei é clara (mostra o documento) que diz :

    “Toda fada que se casar com um mortal deve morrer”

    Mas o Chanceler mor, comovido pelo retorno de Iolanthe, decide ajudar com sua experiência como jurista. “basta acrescentar uma palavra no documento e tudo fica resolvido”.

    “Toda fada que NÂO se casar com um mortal deve morrer”.

    E assim a Rainha ordena que o Soldado Willis se case com ela para salva-la da morte, transformando-o num “fado”.
    Os lordes da câmara, percebendo que , com o concurso público só serão admitidas pessoas inteligentes na câmara dos lordes, decidem aceitar a oferta da Rainha e viram “fados”.
    E foram felizes para sempre.

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