3 de março de 2012

Shakespeare, Purcell e a versão do NUO para Fairy Queen

Shakespeare começou a escrever Sonho de uma noite de verão por volta de 1590, na mesma época em que escrevia Romeu e Julieta. A peça teve sua estréia provavelmente em 1594 e foi um grande sucesso. Existem dois textos básicos que inspiraram a peça: Metamorfoses de autoria de Ovidio Naso, poeta da Roma antiga, onde está descrita em poesia a história de Píramo e Tisbe e O Asno de Ouro de Apuleius, do poeta Grego que narra a transformação de um homem em burro.

O fato de ter sido escrita na mesma época de Romeu e Julieta fez com que houvesse paralelos: não se pode deixar de comparar à história de Píramo e Tisbe que morrem por amor, assim como a relação proibida entre Hérmia e Lisandro.

Mas antes de tudo Sonho de Uma noite de verão é uma obra que foca em especial o universo feminino, já que as personagens femininas são fortes e lutam abertamente contra as normas: isso acontece com Hérmia, Helena, Titânia e por que não dizer com Hipólita.

Mas provavelmente o sucesso que esta obra faz até hoje, entre todas as faixas etárias, é o conteúdo de fantasia que se une à realidade. Os mundos das fadas e dos homens são,aqui, um só e essa coexistência é  plenamente aceita.

Cem anos depois da estréia de Sonho de uma noite de verão,  o compositor inglês Henry Purcell escreveu a música para uma adptação anônima da peça de Shakespeare. A adaptação da peça se perdeu, mas a música pemaneceu intacta. A ideia foi escrever uma série de canções e danças que entremeassem os diálogos, na maioria fiéis ao texto de Shakespeare, diferente das canções que tinham um texto livre, quase metafórico, em relação ao Sonho de uma noite de verão, dando origem, assim, a uma música incidental que se chamou na época de semi-ópera. - gênero que Purcell já havia feito antes com O Rei Arthur e em A Tempestade.

Nesta obra, uma das últimas escritas por Purcell, que morreu prematuramente aos 35 anos, provavelmente de tuberculose, o compositor teve, pela primeira vez,  um grupo profissional de cantores e instrumentistas a sua disposição, o que permitiu uma escrita de grande dificuldade técnica, muito além de, por exemplo, sua ópera Dido e Eneas.

De alguns anos para cá foram feitas montagens que demonstraram o quanto a ópera se completa com o texto de Shakespeare reforçando que a semi-ópera de Purcell só pode ser entendida em sua plenitude se montada desta forma. Todavia, essas adaptações apresentam três grupos distintos: atores fazem a peça de Shakespeare, cantores cantam as canções de Purcell e dançarinos atuam nas danças.

A proposta do NUO para esta montagem é unir essas três vertentes num único grupo. Mais um grande desafio para nossos integrantes. Além disso optei por uma movimentação mais “circense” nas danças introduzindo malabarismos e acrobacias, sobretudo nos trechos instrumentais.

Os ensaios já começaram e tem sido muito gratificante ver nosso grupo de atores–cantores e os instrumentistas envolvidos em tão complexa produção.

Tenho certeza de que o público vai gostar muito. E vai se encantar com o primoroso texto de Shakespeare e a belíssima música de Purcell.

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