3 de outubro de 2016

O primeiro drama musical

"La Rappresentatione di Anima e di Corpo" de Emílio Cavalieri, é considerado por muitos estudiosos como o primeiro oratório da história da música e por outros como a primeira ópera, já que se trata de uma obra cênica, talvez devesse ser considerada como o primeiro drama musical da história. A obra é, antes de tudo, um exercício  filosófico dramatizado, neste caso sobre os assuntos da alma e do corpo. Importa, com esta obra, sublinhar a sua importância no contexto da música florentina do séc. XVI, exatamente no período em que surgia esse novo gênero chamado ópera.
No prefácio de Cavalieri que antecede ao libreto da sua "Rappresentatione" há um texto intitulado "Advertimento para qualquer um que a interprete em Recitar Cantando" que consiste, sobretudo, em indicações cênicas e dramáticas, sublinhando a visão de Cavalieri sobre a técnica do recitar cantado.
Assim, com a adoção do novo estilo florentino, a ordem, que era o fundamento das leis musicais, perde importância em relação à expressão; a música torna-se falante; ela tem a vocação de imitar os movimentos da alma - aí encontramos cromatismos, modulações súbitas e os ornamentos expressivos que mais tarde serão utilizados por Monteverdi.Toda a peça é repleta de danças, que devem ser feitas pelos próprios cantores, segundo indicação de Cavallieri. 
Por todos esses motivos, torna-se óbvia a importância desta obra para a história da música e, particularmente, para a história da ópera, no sentido em que esta é, assim, o primeiro drama inteiramente musicado que chegou até aos nossos dias, sendo considerado por alguns como a primeira oratória da história e por outros como a como a primeira ópera, visto estarmos diante de um melodrama religioso.Os personagens são alegóricos, não são personas mas personificações simbólicas: Alma, Corpo, Tempo, Intelecto, Mundo, Conselheiro, Anjo Guardião, Alma Danada, Prazer, alma abençoada e Vida Mundana.
Enredo:
Após a aparição do Tempo, que representa a imprevisibilidade da morte, o inevitável, surge o Intelecto que divaga sobre a existência. Inicia-se um diálogo entre o Corpo e a Alma. O Corpo investiga os motivos que atormentam a Alma. Esta, por sua vez, fala sobre o dilema que a assombra: a dicotomia entre viver a vida terrena ou ir ao encontro da eternidade. Para o Corpo este é um dilema infundado e ele convida a Alma a desfrutar do pecados e prazeres da vida. Esse conflito é alimentado por um lado pelos defensores da Alma e, por outro, pelos aliados do Corpo que tentam sem tréguas levar o outro para seus caminhos.
A obra é atemporal e apesar da mensagem com final positivo e cheio de esperanças pode levar a leituras opostas sem perder seu poder de questionar o sentido da vida.

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